Instituto malgaxe produziu o composto, e o governo local começou a distribuir a outros países africanos. OMS reforça que nenhum medicamento teve eficácia comprovada até agora. Presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, toma ‘medicamento’ distribuído como cura e prevenção para Covid-19 em foto de 20 de abril
Andry Rajoelina/Reprodução/Twitter
Em 19 de abril, o presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, apareceu em rede nacional para anunciar um remédio fitoterápico para Covid-19. NÃO há comprovação científica da eficácia da bebida. Mas o político vem doando caixas e caixas desse suposto medicamento a outros países da África para combater o novo coronavírus.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reitera que NÃO há ainda um tratamento medicamentoso considerado eficaz para a Covid-19. Diversos testes com diferentes substâncias estão em andamento, mas as autoridades médicas recomendam que as pessoas NÃO se automediquem (veja mais no fim da reportagem).
Planta produzida em Madagascar para ‘cura’ de Covid-19
Andry Rajoelina/Reprodução/Twitter
Mas o que é esse medicamento proposto pelo presidente de Madagascar?
Trata-se de um composto fitoterápico à base de uma planta usada em chá medicinais para tratar sintomas de gripe e de resfriado. E, segundo o presidente Rajoelina, o vegetal “já é utilizado na luta contra a malária e a febre”.
“O estado de saúde dos doentes com Covid-19 que tomaram o medicamento melhorou em 7 dias, e a cura completa durou 10 dias”, alega.
Ainda de acordo com o presidente de Madagascar, o medicamento foi desenvolvido pelo Instituto Malgaxe de Pesquisa Aplicada e lançado a partir de resultados positivos em testes clínicos. O G1 entrou em contato por e-mail com responsáveis pela instituição para saber de que forma as pesquisas foram feitas, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
TIRE SUAS DÚVIDAS: Como funcionam as pesquisas sobre medicamentos
Distribuição pela África
Caixas de fitoterápico chamado de cura por presidente de Madagascar que foram enviadas à Guiné Equatorial
Andry Rajoelina/Reprodução/Twitter
Pelas redes sociais, Rajoelina vem anunciando o envio de caixas com garrafas do medicamento a outros países africanos. Guiné-Bissau e Guiné Equatorial já receberam carregamentos com o fitoterápico, e o presidente malgaxe prometeu entregar o composto a Comores, Congo, Tanzânia e Senegal.
Dentro de Madagascar, o governo anunciou a distribuição gratuita “aos mais vulneráveis” e “a um preço muito baixo” aos demais.
Na segunda-feira (4), Rajoelina disse que encorajaria os cidadãos de Madagascar a cultivar a planta e disse que cada tonelada com o vegetal vale 3 mil ariaris malgaxes — equivalentes a aproximadamente R$ 4,50.
De máscaras, mulheres esperam em fila para receber medicamento distribuído pelo governo de Madagascar
Andry Rajoelina/Twitter/Reprodução
Além disso, o presidente disse que o produto será distribuído em escolas e que os alunos serão obrigados a tomar o medicamento para entrar em sala de aula. Estabelecimentos de ensino reabriram no fim de abril.
Mesmo com o uso do suposto remédio, Madagascar adota medidas de isolamento social e de uso obrigatório de máscaras. O país registrava nesta quarta (6) 158 casos de novo coronavírus e nenhuma morte pela Covid-19.
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O que diz a OMS?
Presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, visita fábrica de medicamento considerado por ele ‘curativo’ contra Covid-19
Andry Rajoelina/Reprodução/Twitter
Em resposta ao G1, a OMS afirmou que, apesar de haver compostos que ajudem a aliviar os sintomas, NÃO há por enquanto um medicamento considerado eficaz para a cura da Covid-19. O órgão também pede que as pessoas NÃO se automediquem.
“Enquanto alguns medicamentos ocidentais, tradicionais ou caseiros podem dar conforto e aliviar sintomas de Covid-19, não há provas de que os medicamentos atuais possam prevenir ou curar a doença”, reforça.
Logo da OMS na sede em Genebra, Suíça
Denis Balibouse/Arquivo/Reuters
A OMS diz que “esforços de inovação” são “bem-vindos”, e reconhece que há testes em andamento da medicina tradicional em países como China, Índia, Tailândia, Sri Lanka, Japão e Coreia do Sul. Porém, a organização alerta que mesmo remédios fitoterápicos dependem de protocolos rígidos e testes.
Por enquanto, a melhor forma de prevenção ao novo coronavírus é o isolamento e distanciamento social, além da higiene frequente das mãos e do uso de máscaras caso seja necessário sair de casa.
Medicamentos estão sendo estudados para o combate à Covid-19
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