Iniciativa deve ajudar a identificar padrões de predisposição a doenças; governo quer usar banco para personalizar tratamentos do SUS. Projeto custará R$ 600 milhões em quatro anos. O governo federal lançou nesta quarta-feira (14) um programa que pretende armazenar em um banco de dados, nos próximos quatro anos, o sequenciamento genético de 100 mil brasileiros.
Segundo o governo, isso permitirá, por exemplo, identificar predisposições de pacientes para determinadas doenças – o que, no futuro, pode resultar no acesso a tratamentos personalizados.
O sequenciamento genético é um método utilizado na medicina de precisão que permite a leitura de todo o código genético do indivíduo. Com isso, é possível identificar as partes dessa sequência que podem levar ao aparecimento de determinadas doenças, por exemplo.
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De acordo com o Ministério da Saúde, o banco de dados terá genes de portadores de doenças raras, cardíacas, câncer e infectocontagiosas, como a Covid-19.
Segundo a pasta, essas doenças foram escolhidas devido à elevada carga de casos no país e aos elevados custos que geram ao Sistema Único de Saúde (SUS).
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que o banco de dados genéticos que o governo pretende criar deve ser o maior do mundo.
“Nós já estamos atrasados. Grande parte do mundo já está há mais de 8 anos tratando de genoma, terapia genômica. E nós precisamos correr atrás do prejuízo”, disse o ministro.
Recrutamento no SUS
Os participantes da pesquisa, que terão seus genomas sequenciados, serão recrutados diretamente dos serviços do SUS que cuidam das doenças a serem investigadas. O projeto é inspirado no Projeto 100.000 Genomas do Reino Unido, iniciado em 2012.
O programa terá investimento de R$ 600 milhões para nos primeiros quatro anos, segundo o governo. Denominado de Genomas Brasil, ele foi instituído pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em agosto, em uma portaria publicada no “Diário Oficial da União”.
De acordo com o documento, o Genomas Brasil será financiado pelo orçamento do Ministério da Saúde, por emendas parlamentares destinadas a ações do setor e por recursos de programas de renúncia fiscal do ministério.
O Genomas Brasil vai trabalhar, segundo o governo, com três frentes:
fortalecer as áreas de ciência e tecnologia no Brasil, apoiando financeiramente a execução de pesquisas e formação de pesquisadores;
estabelecer um projeto piloto de pesquisa para avaliar a viabilidade de implementação do serviço de genômica e saúde de precisão no SUS; e
fortalecer e estimular a indústria brasileira de genômica e saúde de precisão.
O Ministério da Saúde diz ter firmado acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), este ano, para disponibilizar mais de R$ 71 milhões do orçamento a ações de fomento à pesquisa e à capacitação de pesquisadores.
A iniciativa também conta com a parceria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que trabalhará na atração e regulação de recursos privados para o programa.
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Banco de dados
Em setembro, cientistas da Universidade de São Paulo (USP) concluíram a análise do material genético de 1.171 idosos de São Paulo.
O estudo foi voltado para pessoas acima de 60 anos, e a média de idade dos participantes foi de 71 anos.
O foco da pesquisa era entender como as células de idosos com mais de 90 ou 100 anos e saudáveis conseguiam se preservar durante tanto tempo.
Coronavírus
O sequenciamento genético também pode ser utilizado para obter informações sobre os organismos que causam doenças. O sequenciamento genético do novo coronavírus, causador da pandemia de Covid-19, foi feito por duas pesquisadoras brasileiras.
As cientistas Jaqueline de Jesus e Ester Sabino usaram uma técnica trazida por Ester ao Brasil, há quatro anos. Na época, o método foi utilizado no enfrentamento à epidemia do vírus da Zika.
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