Número mais que triplicou em um mês. Nota técnica da fundação foi divulgada nesta segunda (4). A Fiocruz divulgou, nesta segunda-feira (4), uma nota técnica apontando que 71,5% das regiões do país que atendem pacientes de outros municípios já têm casos de Covid-19. O número triplicou em um mês. Em cerca de 30% dessas regiões, há mortes pela doença, que já matou mais de 7 mil pessoas no Brasil.
A fundação usou um critério do IBGE que identifica quais são as “regiões de influência” de cidades brasileiras para atendimentos em baixa e média complexidade. Esses atendimentos incluem os de saúde primária – nas Unidades Básicas de Saúde – e o internamento em UTIs, com respiradores, como é o caso de pacientes com casos graves de Covid-19.
Segundo os levantamentos, existem 758 “regiões de influência” no Brasil – ou seja, locais de aglomeração de vários municípios em que as pessoas saem de suas cidades e vão para outras em busca de atendimentos médicos. Dessas, 542 já têm casos de Covid-19, e 224 já tinham óbitos até o dia 23 de abril. Até o dia 2 do mesmo mês, eram 158 com casos e 44 com óbitos.
Evolução da Covid-19 pela região de influência das cidades
Reprodução/Fiocruz
Na prática, explica Mônica Magalhães, pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz, isso quer dizer que “as regiões onde a população busca serviços de saúde já têm casos”.
“Isso vai acarretar uma sobrecarga dos serviços de saúde dos municípios que recebem os pacientes do seu próprio município e de outros”, explica a pesquisadora.
O estudo das regiões de influência é importante porque, em saúde, “as pessoas não respeitam fronteiras estaduais”, afirma Magalhães. Ou seja: as pessoas saem de seus municípios para buscar atendimento em outra cidade – e ele não necessariamente fica no mesmo estado.
Um exemplo, diz, são as cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), separadas pelo rio São Francisco. As pessoas transitam rotineiramente entre as duas usando uma ponte. “É difícil pensar que um município vai definir políticas de isolamento, quarentena, e outro, não”, explica Magalhães.
Cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) são separadas por rio; moradores usam ponte para transitar
Juliane Monteiro/G1
“Não dá para pensar nessas ações de contenção só pelo estado, porque as pessoas vão começar a transitar – a rede de saúde não está presa ao município. É por isso que é importante ter essa visão do que é essa rede de atendimento”, pondera a pesquisadora.
“A gente está chamando atenção das redes porque a gente sabe que os casos acontecem nos municípios, mas as pessoas vão sair de seus municípios pra procurar serviço. Não pode pensar só a nível municipal, e tem que passar por cima dessas políticas estaduais”, afirma.
Esse trânsito precisa ser levado em conta, inclusive, na definição de políticas de isolamento, avalia Magalhães.
“Não adianta alguns estados liberarem se eles não têm leitos suficientes – se a população daqueles municípios vai procurar serviços em outros. Essas pessoas vão inchar o serviço de saúde em outros lugares. Não é pensar onde a pessoa mora, e sim que redes ela usa para procurar o serviço de saúde”, diz.
Magalhães lembra, inclusive, que a “lógica” de disseminação da Covid-19 inverteu o processo de atendimento: antes, os pacientes eram levados do interior para as capitais. Agora, já há capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, que estão enviando pacientes para o interior pela falta de vagas. “Isso é raríssimo acontecer, está indo na contramão da lógica, para você ver como é complexo”.
Falta de recursos
26 de abril: trabalhadores de saúde protestam contra a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) em Manaus enquanto seguram fotos de colegas que morreram de Covid-19.
Bruno Kelly/Reuters
A Fiocruz também constatou que, em metade das regiões de influência para atendimento em saúde, pelo menos um dos três recursos de atendimento de pacientes com Covid-19 – médicos, leitos de UTI e respiradores – não é suficiente.
Médicos
O parâmetro usado pelo Ministério da Saúde é de que cada médico atenda entre 8 e 10 mil pessoas, segundo a nota da Fiocruz. Mas, em regiões de influência do interior da Bahia, do Pará, do Maranhão, do norte do Mato Grosso, sul de Rondônia, oeste do Acre e do Amazonas a quantidade não atende a esses parâmtros.
Leitos de UTI
O critério do Ministério da Saúde estabelece que entre 4% e 10% dos leitos hospitalares devem ser de tratamento intensivo (UTI). Mas, em várias regiões de influência do Norte, Centro-Oeste, Nordeste e oeste da região Sul, não há sequer um leito de UTI. Isso, segundo o estudo, acabaria acarretando a sobrecarga de outras regiões do país com a transferência de pacientes desses lugares.
Respiradores
Não há parâmetros quanto aos respiradores, mas o levantamento da Fiocruz aponta que 71 das 758 regiões de influência não têm ventiladores mecânicos disponíveis (cerca de 9,4%). As regiões Norte e Nordeste são as mais críticas, mas as outras também têm baixo número de respiradores em relação ao número de habitantes.
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