SÃO PAULO – Em meio à crise provocada pelo avanço do novo coronavírus e seus efeitos sobre a saúde pública e sobre a economia, a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) oscilou de volta ao seu menor patamar desde o início do mandato, há 15 meses. É o que mostra a nova rodada da pesquisa XP/Ipespe, divulgada nesta sexta-feira (20).
Segundo o levantamento, realizado entre os dias 16 e 18 março, as avaliações positivas (“ótimo” ou “bom”) do atual governo atingiram a marca de 30%, o que corresponde a um recuo de 4 pontos percentuais em relação à fotografia de fevereiro. O novo patamar registrado é o mesmo observado em setembro do ano passado.
Já as avaliações negativas (“ruim” ou “péssimo”) ficaram em 36%, mesma marca do levantamento anterior e 5 pontos percentuais abaixo do pico de setembro. Enquanto o grupo dos que avaliam a atual administração como regular oscilou de forma ascendente, para 31%.
De acordo com a pesquisa, as expectativas com relação ao restante do mandato de Bolsonaro chegou à pior marca junto à opinião pública. O levantamento mostra que o grupo dos que esperam uma gestão positiva vem em trajetória de queda desde novembro. Nestes quatro meses, o tombo foi de 8 pontos percentuais, marcando 38%.
Já o grupo daqueles que esperam um restante de mandato ruim ou péssimo manteve 33%, mesmo patamar dos últimos dois levantamentos. As expectativas de uma gestão regular, por sua vez, somam 22% dos eleitores – maior marca já registrada.
Esta é a primeira vez em que expectativas positivas e negativas encontram-se em situação de empate técnico, já que a margem máxima de erro do levantamento é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
As movimentações observadas nas curvas de popularidade e de expectativa com o governo coincidem com uma inversão na percepção sobre a condução da política econômica.
Hoje, 48% dos entrevistados consideram que a economia está no caminho errado, contra 38% que veem a economia no caminho certo. Há um mês, eram 47% os que tinham visão positiva contra 40% com visão negativa.
O levantamento também mostra uma maior associação dos eleitores entre a imagem do governo Bolsonaro e a situação econômica atual. Em um ano, as associações saltaram 12 pontos percentuais, para 17%. A presente administração está atrás apenas da gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece com 27%.
A piora nas expectativas com relação ao atual governo também coincide com o aumento da preocupação da população com o avanço do novo coronavírus e a discordância com a realização das manifestações favoráveis a Bolsonaro no último domingo (15).
O levantamento mostra que, entre fevereiro e março, cresceu de 50% para 70% o grupo de eleitores com pouco ou muito medo com a doença. Já o grupo dos que se dizem despreocupados com a pandemia recuou de 49% para 28% no mesmo período.
O movimento contrasta com as primeiras reações de Bolsonaro ao problema. Embora tenha desaconselhado a realização de manifestações populares a favor de seu governo, o presidente suspendeu seu isolamento no último domingo (15) para acompanhar parte do ato e cumprimentar um grupo de apoiadores em frente ao Palácio do Planalto – também contrariando as recomendações para que se evitem aglomerações.
Depois, em entrevistas à imprensa, o mandatário chegou a falar em “histeria” com o surto da doença e que ele seria o responsável caso tenha sido infectado com a Covid-19. “Ninguém tem nada a ver com isso”, afirmou. O comportamento do presidente gerou reações negativas até de grupos fora de seus opositores. Em duas noites, foram realizados panelaços contra Bolsonaro (e também a favor, porém, de forma reativa e em menor escala).
Segundo a pesquisa XP/Ipespe, 64% dos entrevistados discordaram com a realização dos atos no último domingo, contra 27% que concordaram com o movimento.
Segundo o levantamento, 74% ainda dizem não ter sentido impactos financeiros decorrentes do avanço do novo coronavírus, mas 76% acreditam que haverá efeitos no futuro. Para 92%, a economia brasileira sofrerá com as consequências da doença.
A atuação do ministro da Sáude, Luiz Henrique Mandetta, para esclarecer a população e evitar a propagação é vista como positiva por 56% dos entrevistados. A reação do governo federal é aprovada por 40%, enquanto as medidas para combater a disseminação e tratar infectados tem avaliação ótima ou boa de 41%. A ação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para fazer frente à crise é bem vista por 32% dos entrevistados.
Para o combate aos efeitos econômicos da crise, 61% preferem a adoção de medidas de estímulo, enquanto 24% acham que o Congresso deveria focar a aprovação da agenda anterior, das reformas administrativa e tributária.
A pesquisa XP/Ipespe ouviu 1.000 eleitores de todas as regiões do país, entre os dias 16 e 18 de março. As entrevistas foram conduzidas por operadores, pelo telefone. A margem máxima de erro é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
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