Em depoimento que consta no processo, executivo nega que valor de R$ 900 mil sacados da empresa era para quitação de honorários advocatícios. Operação do STJ mira juízes, advogados e empresários suspeitos de favorecer companhia. ‘Queria que colocasse propina?’, diz presidente de empresa sobre dinheiro que teria sido usado para comprar sentenças judiciais Goiás
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O atual presidente da Centroalcool S/A, Sandro Ângelo Mascarin, confirmou que a empresa repassou dinheiro a magistrados para obter sentenças. O depoimento consta no processo que apura a participação de juízes, advogados e empresários na venda de decisões judiciais. No âmbito da investigação, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) expediu mandados de busca e apreensão em desfavor dos envolvidos.
Veja abaixo o posicionamento dos envolvidos
Mascarin, que em 2015, época dos fatos, era diretor de negócios da empresa, aparenta ironizar ao responder sobre recibos de pagamentos que constavam como quitação de “adiantamento de serviços advocatícios”, na ordem de R$ 900 mil.
“O senhor queria que eu colocasse propina?”, questionou o empresário.
Mascarin então é questionado pelo advogado que o interpelava se a motivação de custeio de honorários advocatícios era “falsa ou verdadeira” e responde:
“Lógico que não. É a propina”
O G1 tenta localizar a defesa de Mascarin no caso.
Juízes e magistrados são investigados em operação
Tribunal de Justiça de Goiás/Divulgação
Outros alvos
O ex-presidente do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), desembargador Gilberto Marques Filho, o também desembargador Orloff Neves Rocha e o juiz Ronnie Paes Sandre foram alvos da operação.
O desembargador Orloff Neves Rocha é suspeito de pedir R$ 800 mil ao advogado Ricardo Miranda Bonifácio e Souza, a quem os recibos eram emitidos, para favorecer a usina em duas sentenças.
Uma para dar o comando da empresa de volta ao proprietário Alceu Pereira Lima Neto, afastado durante a recuperação judicial, e outra para colocar em suspeição a juíza Adriana Caldas dos Santos, que conduzia o processo na Comarca de Inhumas.
O próprio Alceu já havia confirmado que entregou o valor ao advogado para ser repassado ao desembargador.
A juíza Adriana Caldas dos Santos, de Inhumas, preferiu não comentar as investigações da PGR nem o cumprimento dos mandados pela Polícia Federal. A defesa do desembargador Orloff Neves Rocha e do juiz Ronnie Paes Sandre não foram localizados pelo G1 para se manifestar até a publicação desta reportagem.
Notas na íntegra
Ricardo Bonifácio Miranda
“Não tive acesso ao inquérito, mas, em relação aos fatos apontados na decisão, já havia contribuído para a elucidação deles como testemunha na corregedoria do TJGO. Lamento o fato de terceiro ter atribuído uma conduta incompatível com a moralidade de minha atuação enquanto advogado. Estou a disposição para esclarecer qualquer situação a mim atribuída e mostrar de forma veemente que jamais agi da forma apontada, estabelecendo a verdade dos fatos.”
Desembargador Gilberto Marques Filho
Nesses quarenta e quatro anos de magistratura nunca tive nenhuma nódoa na minha carreira, tendo, nessas mais de quatro décadas, pautado a minha atuação pela mais absoluta idoneidade e seriedade, tal qual é na minha vida pessoal. A respeito dos fatos veiculados na imprensa, dos quais ainda estou tomando conhecimento, informo que estou absolutamente tranquilo no sentido de que serão devidamente esclarecidos, para o que já estou colaborando com as autoridades competentes.
Centroalcool S/A
A empresa leva ao conhecimento do público em geral, que os fatos noticiados pela imprensa local e nacional na data de hoje, relativa a acontecimentos no âmbito do Poder Judiciário, e que implicam na sua participação, foram levados pela própria empresa, em setembro de 2016, ao conhecimento da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de Goiás, do Ministério Público Estadual e do Conselho Nacional de Justiça, tudo isso em total lisura e transparência, carreando todos os fatos e provas que mereciam ser apreciados pelas autoridades competentes.
Que confia na justiça e deixa de comentar os fatos e documentos carreados naqueles procedimentos instaurados pela própria empresa, uma vez que tais procedimentos se encontram sob sigilo judicial.
Tribunal de Justiça de Goiás
Sobre a operação deflagrada na manhã desta terça-feira (30), por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o Poder Judiciário goiano informa que colaborou efetivamente com a ação da Polícia Federal, fornecendo todos os dados solicitados e prestando os esclarecimentos necessários à elucidação da questão.
Como o processo corre em sigilo, o TJ-GO não pode fornecer mais detalhes, mas ressalta que se trata ainda de investigação e serão observados os princípios constitucionais, como o contraditório e amplitude de defesa, ou seja, dando aos envolvidos o direito de ampla defesa, de acordo com artigo 5°, inciso LV da Constituição Federal.
Por fim, informa que o deslinde do caso é de seu total interesse e que continua à disposição, tanto do STJ quanto do Conselho Nacional de Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal para aclarar tudo o que estiver a seu alcance.