MPF faz referência à ‘Escolinha’ ao responder defesa de réu na Lava Jato: ‘Não me venha com chorumelas’


Procuradores lembraram personagem Pedro Pedreira ao refutar argumento. Defesa de citado diz que houve ‘falta de urbanidade’ por parte do MP. Processo da Lava-jato cita bordão de programa de humor
A “Escolinha do Professor Raimundo” foi parar num processo da Lava Jato no Rio. Uma frase de um personagem do famoso programa humorístico foi citada pelo Ministério Público ao refutar uma argumentação da defesa de um acusado.
Em 2018, a Operação Furna da Onça desvendou um esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). A Justiça decretou a prisão de 22 pessoas, entre elas dez deputados estaduais e vários assessores parlamentares.
Segundo a investigação, deputados recebiam propina do então governador Sérgio Cabral para apoiar os projetos de interesse do governo na Alerj. Entre eles o deputado André Corrêa, e o chefe de gabinete dele, José Antonio Wermelinger.
A Lava Jato diz que entre 2011 e 2014, segundo mandato de Cabral, André Corrêa recebeu um “mensalinho” de R$ 100 mil. No total, a propina chegou a R$ 3,9 milhões.
De acordo com o MPF, o dinheiro vivo era entregue por doleiros a operadores de Cabral que depois ligavam e marcavam um encontro com José Antonio para entregar a propina diretamente ao assessor do deputado, que era líder do governo na Alerj.
Referência ao programa
Em março deste ano, a defesa de José Antonio pediu ao juiz Marcelo Bretas que os investigadores fossem obrigados a fornecer os recibos de entrega da propina por empresas de transporte de valores (carros-forte) utilizadas pelos doleiros para a suposta entrega de valores ao assessor parlamentar.
Antes de decidir, o juiz consultou o Ministério Público Federal. Segundo os procuradores, a denúncia da Operação Furna da Onça “descreveu a forma como a propina chegava ao acusado José Antonio Wermelinger e apresentou elementos de prova que confirmam a prática delituosa. Especificamente sobre esses pagamentos, não houve a indicação de uso das transportadoras de valores, o que demonstra o descabimento da diligência”, pedida pela defesa do assessor parlamentar.
Os procuradores escreveram ainda que “Iniciativas assim remetem ao programa de TV ‘Escolinha do Professor Raimundo’, no qual o personagem Pedro Pedreira, depois de exigir provas absurdas para a comprovação de fatos históricos e incontroversos, valia-se do bordão: ‘Não me venha com chorumelas’, para negar a realidade”.
Em sua decisão, sem citar Pedro Pedreira, o juiz Marcelo Bretas concordou com o parecer dos procuradores: “O MPF esclareceu que não foram utilizadas transportadoras de valores na entrega de propina ao réu, logo o pedido seria de impossível efetivação, razão pela qual indefiro”.
Marco Ricca como Pedro Pedreira. Personagem também já foi vivido por Francisco Milani
Reprodução/TV Globo
Outro lado
Em nota, a defesa de José Antonio Wermelinger disse que “houve clara falta de urbanidade por parte do Ministério público nessa afirmação. Os procuradores devem tratar os advogados com respeito. Não devem fazer críticas dessa natureza às medidas que a defesa entendeu pertinentes ao exercício de defesa de seu constituinte. Há respeito aos procuradores por parte dos advogados de defesa e isso deveria ser recíproco. A defesa optou por não questionar isso nos autos, pois o processo não deve parar por conta de uma falta de respeito com os advogados, nem ser palco de discussões dessa natureza. A defesa lamenta essa postura. Deveria ter ocorrido retratação dos procuradores quanto a esse ponto, mas infelizmente não ocorreu”.
A defesa de Sérgio Cabral afirmou que o ex-governador “agora é colaborador da Justiça e no momento oportuno vai relatar a verdade dos fatos”.
O deputado André Corrêa sempre negou todas as acusações.

By Negócio em Alta

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