Dorildes Laurindo foi alvejada por um tiro e morreu no hospital nesta terça (2). Gilberto Andrade, o angolano que estava com ela em um veículo de aplicativo, se recupera de cirurgia. MP investiga atuação da polícia que deixou uma mulher morta e um angolano ferido
O Ministério Público de Gravataí pediu à Polícia Civil, nesta quinta-feira (4), novas provas e diligências para investigar o caso da mulher que foi morta por engano pela Brigada Militar durante a abordagem a um motorista de aplicativo em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Dorildes Laurindo não resistiu aos ferimentos e morreu nesta terça-feira (2). Já o técnico em radiologia que estava com ela, o angolano Gilberto Andrade, se recupera de uma cirurgia no joelho.
Para o promotor Fernando Bittencourt, o MP ainda não tem provas de que houve a troca de tiros, que resultou na morte de Dorildes. Ele pediu à Delegacia de Homicídios que junte a certidão de óbito e o exame de necropsia da vítima.
“O MP não formou ainda uma convicção a respeito, porque, realmente, o motorista do aplicativo nega ter efetuado os disparos contra os brigadianos. A Dorildes, ouvida no hospital, também referiu que não sabia se o motorista do aplicativo tinha ou não uma arma, mas que ela não viu ele atirando contra os policiais. O Gilberto diz a mesma coisa”, pontua.
“Dentro do carro, ele não pegou a arma, não. Ele tava focado na direção mesmo”, corrobora o angolano.
De acordo com o inquérito, na versão dos brigadianos, o motorista passou o sinal vermelho e começou a ser perseguido por uma viatura da Brigada Militar. Quando percebeu que os policiais estavam atrás, o motorista acelerou muito.
Após fazer uma curva, o homem parou o carro, desceu e fugiu a pé. Nesse momento, segundo a BM, ele atirou contra os policiais. O angolano e a amiga estavam descendo do carro quando foram atingidos.
“Nós vamos avaliar na conclusão do inquérito, porque assim, de imediato, a gente não tem como afirmar se houve erro ou acerto. Isso tudo vamos avaliar no andar do inquérito”, diz o tenente coronel Alexandre da Rosa comandante metropolitano da Brigada Militar.
Dorildes Laurindo foi atingida por tiros quando estava em um carro de aplicativo dirigido por um foragido
Reprodução
BM abre inquérito
A Brigada Militar abriu inquérito para investigar a conduta dos três policiais envolvidos. Eles já foram afastados. Segundo o Ministério Público, os brigadianos mudaram a versão do caso, dizendo, primeiro, que viram o motorista e Gilberto atirando e, depois, que não sabiam quem tinha feito os disparos.
O motorista Luis Carlos Pail Junior está preso e vai ser indiciado por tentativa de homicídio qualificado contra os policiais, porte ilegal de arma, que foi achada dentro do carro, desobediência, resistência e direção perigosa.
O promotor também vai pedir novas diligências à polícia. Entre elas, o depoimento de todos os policiais envolvidos na perseguição, que começou em Cachoeirinha. Fernando Bittencourt quer saber também o que motivou a ação e quais informações a Brigada Militar tinha antes de ir atrás do carro.
“A gente tem o exame residuográfico, que é pra ver se tem algum resquício de pólvora nas mãos do Luiz Carlos. Além disso, a gente tem as perícias nos veículos envolvidos. A gente não tem a documentação hospitalar do atendimento do Gilberto e da Dorildes, isso não tá nos autos. E estou sugerindo ao juiz que fixe o prazo de 10 dias para que ele atenda isso”, sublinha o promotor.
A família da costureira, que tinha 56 anos, pede justiça.
“Esse momento com ele era especial demais. Ela tava no paraíso, realizando um sonho. Porque ela é sozinha, então encontrar alguém. Eles tinham planos, e acabou. A polícia fez a gentileza de colocar um ponto final em tudo”, revolta-se a irmã, Marjorie Maria Homes Luciano.
Com a amiga Dorildes durante o passeio em Tramandaí
Arquivo pessoal