Infectologista relata noites em claro por pacientes com Covid-19: ‘Fico pensando no que fazer’


Marina Jabur, de Sorocaba (SP), acredita que o legado médico deixado pela pandemia de coronavírus servirá de exemplo para os filhos e a humanidade. Médica fala sobre os desafios de estar na linha de frente no combate ao coronavírus
Marina Jabur/Arquivo pessoal
A vida dos profissionais da linha de frente no combate ao coronavírus mudou bastante nos últimos meses. Tanto o lado profissional quanto o pessoal acabaram sendo afetados devido às incertezas e dificuldades que a Covid-19 impõe. Mas a médica Marina Jabur diz que poder dar alta aos pacientes tem renovado as energias dela para continuar “arregaçando as mangas”.
Em entrevista ao G1, a infectologista, que mora em Sorocaba (SP) e trabalha em hospitais da região, comentou que tem tido insônia por conta da rotina intensa em meio à crise. De acordo com ela, muitos colegas também relataram estar com dificuldades para dormir durante a pandemia.
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“Quando a gente olha para o todo, assusta e dá uma sensação de medo. No caminho para o trabalho, eu ficava com uma sensação de angústia, de aperto no peito. Eu nunca tive insônia e estou tendo. Acordo lembrando dos casos e lembrando o que fazer. Às vezes perco o sono e acho que não sou só eu”, comenta.
Na opinião da infectologista, a falta de embasamento científico, a grande quantidade de informações desencontradas, as fake news e o fato de ser uma doença nova e com grande alcance mundial podem ser alguns dos maiores problemas a serem enfrentados neste período de crise.
“Outra coisa é a falta de insumos, a dificuldade de aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), por exemplo. Outros fatores são o grau de transmissibilidade dessa doença, que é muito alto, e o isolamento, que acaba restringindo bastante”, diz a médica, que ainda elenca o pânico como um inimigo nesse momento.
“O pânico não ajuda, ele só atrapalha”.
Rubens Ferreira teve alta depois de 10 dias internado em Salto (SP)
Divulgação/Unimed Salto e Itu
Alento
Mas, mesmo com tantos momentos ruins e o estresse praticamente permanente, a médica ainda encontra força e motivação para continuar lutando.
Marina foi uma das médicas que tratou o paciente Rubens Ferreira, de 57 anos, que se recuperou da Covid-19 e recebeu uma homenagem da equipe de um hospital particular de Salto (SP) no momento da alta.
Para ela, são momentos como este que fazem com que a equipe da linha de frente no combate ao coronavírus se fortaleça.
“É uma sensação de vitória, de potência muito grande. É uma etapa vencida dentro dessa batalha, porque não poder ver as pessoas que mais gosto ou não conseguir dar um tratamento adequado para uma doença que está se alastrando. Essas sensações de impotência estão ganhando o dia.”
“Mas, quando vêm essas vitórias, nós nos sentimos potentes e isso dá a sensação de ‘vamos arregaçar as mangas e não vamos desistir'”, completa.
Paciente recuperado da Covid-19 tem alta de hospital particular em Salto e ganha homenagem
Ausência
Entretanto, não é nada fácil para a profissional ficar longe da família. Marina diz que o medo de se contaminar existe e é a principal preocupação dentro dos hospitais. Ela conta que um dos filhos tem asma e o marido já teve, por isso pertencem ao grupo de risco de contaminação da doença.
“Tenho me cuidado muito, ao extremo. Qualquer cuidado é pouco. Tenho receio de passar para o meu marido, para os meus filhos. Não tenho visto os meus pais. Tenho receio de passar para eles também e que eles desenvolvam algum quadro grave da doença”, diz.
Em meio à ausência dentro de casa pelo aumento da dedicação ao trabalho, a médica tem esperança que os filhos possam se orgulhar muito dela no futuro.
“Eu procuro pensar que eles vão se lembrar de mim nesse momento. Eles vão pensar: ‘minha mãe foi um soldado nessa guerra, minha mãe ajudou e deixou esse legado para a humanidade'”, relata.
A valorização do trabalho não é uma exclusividade da família de Marina. A médica conta que tem recebido muitas mensagens de carinho dando forças para encarar esse “momento diferente”, como ela classifica.
“Cada vez mais eu recebo mensagem de uma pessoa conhecida dizendo: ‘nossa, tenho pensado muito em você. Obrigada por você lutar pela gente’. Então, eu sinto esse reconhecimento, tanto na minha especialidade como em qualquer outra. Isso fortalece a classe médica. O setor da saúde é importantíssimo, primordial”, conclui.
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By Negócio em Alta

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