Gêmeos fazem registro inédito de uma das aves menos conhecidas do Cerrado


Codorna-mineira é considerada uma ave-fantasma por ser extremamente difícil de ser avistada; fotos e vídeo feitos pelos irmãos mostram em detalhes esta ave rara. Codorna-mineira é ave rara e ameaçada de extinção
Luíz Alberto dos Santos/ Arquivo Pessoal
O mundo das aves é repleto de colorido, diversidade e claro, enigmas. Entre as mais de 1.900 espécies diferentes que existem no Brasil algumas são consideradas grandes tesouros a serem encontrados pelos pesquisadores e observadores da vida selvagem.
As aves endêmicas e extremamente raras são exemplos das que estão sempre no sonho dos passarinheiros de plantão. Algumas delas recebem até o apelido de “aves-fantasmas” por serem difíceis de serem observadas na natureza. É o caso da codorna-mineira (Nothura minor), espécie raríssima que foi flagrada em Pompéu (MG) pelos irmãos gêmeos Luíz Alberto dos Santos e o Afonso Carlos dos Santos.
Os jovens de 21 anos são apaixonados pelo passaredo e estão se destacando no universo do birdwatching por encontrarem espécies raras de aves na cidade em que moram, como o tico-tico-de-máscara-negra, turu-turu, a sanã-de-cara-ruiva e o maxalalagá. Não à toa observadores de aves do Brasil e também do exterior procuram pelos irmãos para contemplar essa diversidade de pertinho.
Depois de mais de três anos em busca da espécie irmãos conseguem registro da ave
Afonso Carlos dos Santos/ Arquivo Pessoal
Em março deste ano a dupla conseguiu fazer mais um registro importante, não apenas para o município, mas em âmbito nacional e até global: fotografaram e filmaram com excelência a codorna-mineira, uma espécie que é extremamente difícil de avistar, principalmente no Sudeste.
“Nós estávamos juntos com o amigo Roberval Santos. Chegamos na área e a ave estava vocalizando. Chamamos no playback, mas sem sucesso. Fomos atrás de outras espécies. Quando estávamos entrando no carro para ir embora ela vocalizou novamente. Resolvemos chamá-la enquanto arrumávamos as coisas para partir, mas já sem esperança. Cerca de dois minutos depois, olhei para o lado e ela estava no limpo, no meio da estrada vindo em nossa direção”, conta Afonso.
Em plataformas digitais de avistamento de aves existem pouquíssimos registros fotográficos da codorna-mineira. No portal do Wikiaves constam apenas 12 fotos da espécie, sendo que os principais registros até então foram feitos no estado de Goiás. Já no Ebird existem apenas 7 fotos da ave.
Codorna-mineira, ave rara do Cerrado, é filmada em Pompéu (MG)
Os meninos já tinham avistado esse tinamídeo raro antes, porém nunca em condições boas e fáceis de observar e fotografar. “Em quatro anos, visitando o local quase que semanalmente, a observamos apenas 2 vezes, o que aumentou mais ainda a alegria do registro. Na hora foi uma tremedeira”, acrescenta Afonso.
A codorna-mineira pode ser facilmente confundida com a codorna-amarela, mas apesar da semelhança, fatores como a vulnerabilidade diferem por completo uma da outra.
Em 2017 ave rara não facilitou o registro para os irmãos e foi observada de costas
Afonso Carlos dos Santos/ Arquivo Pessoal
“Esse registro é muito importante, por mostrar a importância da conservação do Cerrado, nesse caso, os campos nativos, que vem perdendo espaço para a monocultura. Quem não conhece acha que é apenas capim, mas quando você começa a olhar diferente, pode ver que é um mundo cheio de vida com centenas de espécies e muitos deles ameaçados de extinção”, comenta Luiz.
Encontrar essa ave era uma missão para os dois irmãos.”Vimos pela primeira vez em 2017, mas conhecíamos muito pouco sobre a codorna-mineira, então pensamos ser uma codorna-amarela, pois ela estava de costas e nem demos muita bola. Em 2018 o amigo Diego Murta a ouviu, chamamos, mas sem resposta. Depois só fomos ouvi-la em outubro de 2019. Desde então virou um objetivo poder vê-la novamente para fazer o registro”, explica Afonso.
Os irmãos já catalogaram 351 espécies de aves para o município e continuam na longa jornada por novos achados. “Continuamos na busca dando preferência para inhambú-carapé, maria-corruíra, socoí-amarelo, cara-dourada e saracura-carijó”, acrescenta.
Codorna-mineira geralmente é reconhecida pelo canto, porém não é fácil de ser avistada
Luíz Alberto dos Santos/ Arquivo Pessoal
Codorna-mineira (Nothura minor)
Com aproximadamente 20 centímetros de comprimento a codorna-mineira também conhecida como codorna-buraqueira ou cordiz é uma das espécies de tinamídeos mais difíceis de serem observadas na natureza.
Com a plumagem discreta em tons creme com salpicados em negro, esta ave se assemelha à codorna-amarela. A diferença entre elas se dá nos tarsos e pés que são mais delgados na mineira. Além disso, o bico é menor e a ave apresenta o alto da cabeça e as costas em tons castanhos.
A codorna-mineira se alimenta de sementes, frutas caídas no chão e insetos. Uma curiosidade desta ave é que ela se esconde contra os predadores em buracos cavados por tatus.
Habita o Cerrado e ocorre restritamente ao Brasil central, em áreas de campos sujos. A distribuição da espécie vai de Minas gerais a São Paulo bem como Goiás e Mato Grosso.

By Negócio em Alta

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