Com a pandemia do novo coronavírus e a crise no setor artístico, a verba arrecada não era suficiente para custear o pagamento do aluguel do espaço cultural. Espaço N de Arte e Cultura, em Suzano, fecha as portas por causa de crise da pandemia do coronavírus
Espaço N/Divulgação
O Espaço N de Arte e Cultura está fechando as portas após cinco anos de funcionamento em Suzano. Com a crise no setor artístico, gerada pela pandemia do novo coronavírus, a verba arrecada não era suficiente para pagar o aluguel do imóvel.
A quarentena de prevenção da doença Covid-19 impactou diretamente os artistas locais. Para evitar aglomerações propícias para o contágio, os espaços culturais fecharam as portas, inclusive o Espaço N de Arte e Cultura, gerido pelo Teatro da Neura.
Segundo Fernandes Junior, diretor e ator do grupo, o valor que recebiam não era suficiente para custear todos os gastos e o dia 1º de maio foi o último dia de funcionamento do espaço.
“Tentamos negociar com o proprietário que, por sua vez, não quis diminuir o valor do aluguel durante o período da pandemia, sendo assim, achamos melhor fechar o espaço físico e continuar com as propostas de produção artística pelas plataformas digitais”, conta Fernandes Junior.
Para sobreviver à crise, os artistas da região do Alto Tietê estão tendo que inovar nas formas de apresentações e a internet é um auxílio para essa missão. O desafio é como deixar o conteúdo artístico interessante para o público por meio das plataformas digitais e no momento tão crítico para a sociedade. De acordo com Fernandes Junior, lidar com a arte durante uma pandemia é uma situação complicada.
“A crise para a área cultural é brutal, porque como pensar em arte enquanto o Brasil vê seus corpos sendo enterrados, sem ao menos ter familiares acompanhando os velório ou enterros? Qual o papel do artista que sempre esteve no limite de suas condições econômicas de sobrevivência em uma situação limite dessas? Como criar, trocar, lidar com o público quando na internet é mais volátil que o comum?”
Apesar dos prejuízos econômicos, para Fernandes Junior, é necessário pensar na saúde de toda a sociedade, passando pelo isolamento social e adotando medidas de higiene para prevenção.
Com o fim da quarentena, o público ainda pode buscar evitar aglomerações ou estar vivendo o momento de luto e o setor artístico continuará sofrendo para se recuperar, mas para o diretor do Teatro da Neura, o artista deve viver o agora.
“Pensar o futuro é coisa do futuro, o artista hoje está pensando no agora, seja do ponto de vista econômico ou na parte de criação artística”, explica.
Inovação nas plataformas digitais
Após o fechamento do Espaço N de Arte e Cultura, o Teatro da Neura está oferecendo conteúdos artísticos pelas redes sociais.
Toda segunda-feira são lançados vídeos inéditos dos Jogos Neurais, na qual um integrante desafia o outro para fazer uma cena teatral e mostrar em vídeo. Ao todo são 17 integrantes participando do projeto.
Já na atividade Neura na Live, todos os domingos, das 20h às 21h, há um bate-papo entre artistas, ex-membros do Teatro da Neura e convidados, para falar sobre diversos assuntos.
Para produzir os conteúdos, os integrantes gravam em suas casas, sem contato físico com outras pessoas. As reuniões entre os participantes do projeto, para definir os trabalhos, são realizadas todos os sábados de forma online.
Arrecadação de verba
Com o objetivo de arrecadar verba necessária para a manutenção dos serviços oferecidos pelos artistas, o Teatro da Neura está lançando uma campanha de financiamento coletivo contínuo, em que as pessoas contribuem com uma quantia por mês. Para ajudar o Teatro da Neura, a quantia pode variar entre R$ 5 e R$ 100.
Segundo Fernando Junior, as pessoas que contribuem também aproveitam dos benefícios. “Quanto mais a pessoas ajuda, mais benefícios ela ganha. O foco é ajudar a manter as nossas produções que, a partir de agora, serão por meio de vídeos e textos”, conta.
História do Espaço N de Arte e Cultura
A sede do Teatro da Neura foi inaugurada em março de 2015. Trata-se de um espaço voltado para a realização de ações que reunissem moradores, classe artística e interessados em formação cultural.
Em 2017, o Espaço N de Arte e Cultura recebeu mais de 240 atrações, com espetáculos, shows, saraus, festas temáticas, palestras, debates e encontros com movimentos sociais e culturais. As atividades contaram com a presença de mais de 3 mil pessoas.
A morta mais linda da cidade Teatro Neura Suzano
Gabriela Pasquale/Divulgação
O Instituto N de Arte e Cultura é uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve atividades que promovem acesso à cultura, produção artística e política cultural. Fundada em 2011, é responsável pela realização de diversos projetos, como o espetáculo “A Menina da Cabeça de Bola” e “O Velório”, além da 9ª Mostra de Referências Teatrais de Suzano, que continha dez apresentações gratuitas para o público.
O Teatro da Neura começou suas atividades em Suzano em 2004 com a peça “E Não Vos Deixeis Cair em Tentação”. Já em 2018, o grupo completava 14 anos de trabalhos ininterruptos com a produção de 20 espetáculos e mais de 40 leituras dramáticas encenadas.
Os integrantes do Teatro da Neura seguem três linhas de pesquisas em suas montagens, o realismo fantástico, teatro sociedade e estudos rodriguianos. A linguagem visa lidar com a direção estética específica e estudos associados a experimentação cênica.
Em 2017, o Teatro da Neura circulou pelas cidades com menor índice de desenvolvimento humano (IDH), apresentando o espetáculo “A Menina da Cabeça de Bola”. Já em 2018, apresentou o espetáculo “O Menino Gigante” em algumas cidades do interior e do litoral paulista.
O Teatro da Neura também oferece os projetos como leituras encenadas, neurofobia, semana LGBThythy´s e cursos livres de teatros.
Peça ‘O Menino Gigante’ do teatro da Neura
Ewerton Gomes/Divulgação
Entre os espetáculos apresentados pelo grupo também estão “A morta mais linda da cidade”, “Antígona”, “A serpente”, “A última virgem”, “Dorotéia”, “Fábrica de chocolate”, “Macbeth”, “Nova Canaã”, “O buraco da fechadura”, “Pater”, “Pueremã”, “Quando as máquinas param”, “Quando o mar de tão grande virou teto”, “Que a terra há de comer”, “Restos”, “Sábados de aleluia” e “Vidros”.
*Texto supervisionado por Fernanda Lourenço
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