Em rede social, Nelson Teich destacou que o medicamento tem efeitos colaterais e que qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica. Bolsonaro desautoriza ministro da Saúde publicamente e volta a defender uso da cloroquina
O presidente Bolsonaro desautorizou, nesta quarta-feira (13), publicamente o ministro da Saúde, Nelson Teich.
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso da cloroquina para pacientes com sintomas leves do novo coronavírus. Estudos internacionais já concluíram que não há evidências de que o medicamento tenha reduzido os riscos de entubação ou morte de pacientes.
Na terça-feira (12) numa rede social o ministro Nelson Teich destacou que a cloroquina é um medicamento com efeitos colaterais, que qualquer prescrição deve ser feita com base em avaliação médica e que o paciente deve entender os riscos e assinar um termo de consentimento antes de iniciar o uso.
Mas Bolsonaro insistiu no tratamento com a cloroquina e reforçou que acha que os ministros tem que estar alinhados com ele.
“Vou conversar hoje com o Ministério da Saúde. No meu entendimento, que não sou médico, tá, mas no entendimento de muitos médicos do Brasil, e outras entidades de outros países, entende que a cloroquina pode e deve ser usada desde o início. Apesar de saberem que não tem uma confirmação científica da sua eficácia, mas como estamos em uma emergência, enquanto não tivermos algo comprovado no mundo, temos esse no Brasil. Aqui que pode dar certo e pode não dar certo. Mas como a pessoa não pode esperar quase cinco dias pra decidir, a morte pode vir, é melhor usar. Todos os ministros, eu já sei qual é a pergunta, têm que estar afinado comigo. Todos os ministros são indicações políticas minhas e quando eu converso com os ministros, eu quero eficácia na ponta. Nesse caso, não é gostar ou não do ministro Teich. É o que está acontecendo”, disse.
Na mesma entrevista, Bolsonaro voltou a insistir no isolamento vertical, apenas para pessoas do grupo de risco, como idosos. A medida vai em direção contrária ao que dizem autoridades e governantes do mundo inteiro. Nelson Teich já disse que a decisão sobre isolamento precisa levar em conta parâmetros técnicos.
“Desde o começo devia ser vertical. É cuidar das pessoas do grupo de risco e botar o povo para trabalhar. Tem uma máxima do Napoleão, dizendo mais ou menos o seguinte: ‘enquanto o inimigo estiver fazendo um movimento errado, deixo à vontade’. No Brasil, no meu entender, o movimento é errado. É se preocupar apenas, e tão somente, com a questão do vírus. Tem o desemprego do lado”, disse Bolsonaro.
Entre outras questões, as diferenças de entendimento sobre o uso da cloroquina e o isolamento vertical levaram à demissão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no começo de abril. Teich assumiu no lugar dele e Bolsonaro sempre deixou claro que iria insistir nessas medidas.
No fim da manhã desta quarta (13), Nelson Teich foi chamado ao Palácio do Planalto para uma reunião com o presidente que não estava prevista na agenda de nenhum dos dois. À tarde, foi cancelada de última hora, a entrevista em que Teich detalharia seu plano com diretrizes para distanciamento social, levando em conta critérios como a velocidade de crescimento da doença e a estrutura dos serviços de saúde em cada cidade, estado ou região.
O Ministério da Saúde disse que o motivo foi a falta de acordo com os conselhos de secretários de saúde estaduais e municipais, que já disseram que este não é o momento de se falar em relaxar o distanciamento social.