Sidnei Campidell Brandão conversou com o G1 neste Dia do Trabalho e falou sobre receios, angústias pessoais, profissionais, além de deixar uma mensagem de esperança. No Dia do Trabalho o G1 conversou com um médico para falar sobre as lutas e desafios no período de pandemia
Sidnei Campidell/Arquivo pessoal
No Dia do Trabalho, celebrado nesta sexta-feira (1º), o G1 conversou com um médico de Divinópolis que tem atuado na linha de frente contra o coronavírus. Sidnei Campidell Brandão, de 27 anos, falou das lutas, medos, desafios e fez questão de deixar uma mensagem de esperança.
Sidney é novo na profissão. Há três anos exerce a medicina e mesmo tendo estudado na faculdade sobre as pandemias que já ocorreram em décadas anteriores, assim como todos, ele não imaginava uma crise de tamanha proporção, neste momento, em todo o mundo.
Ele relata que quando começaram a ser disseminadas as primeiras informações sobre o novo vírus e a forma rápida com que o mesmo se espalhou na China, começaram os receios por parte dele e de toda equipe da área da saúde com quem trabalha.
“Quando começaram as primeiras notícias em janeiro, a gente já começou a ficar preocupado e passamos a monitorar tudo para saber o andamento desse novo vírus. Em um determinado momento vimos que, mais cedo ou mais tarde, o coronavírus chegaria ao Brasil e quando isso aconteceu a apreensão tomou conta de todo mundo. Chegamos a pensar que talvez a situação pudesse ter sido controlada na China mesmo, mas tempos depois, sabidamente era uma questão de tempo para se espalhar no mundo. A situação saiu do controle”, destacou.
Sidnei relatou que no início o sentimento era de apreensão, em seguida os profissionais começaram a ter muito medo. Além de trabalhar na linha de frente na urgência e emergência em um hospital da região, ele ainda atua como residente de nefrologia em um hospital de Divinópolis. O médico viu todo sistema se mobilizar para dar atenção máxima aos casos de coronavírus.
“No começo a gente via no olhar das pessoas o medo. Não que isso tenha diminuído, mas a gente tem aprendido a ser mais resiliente com essa situação e uma vez definido sobre o que precisa ser feito, a gente agora tem corrido atrás. Estamos focados nas orientações, na conscientização e tomando as precauções necessárias. Mas claro, a gente continua angustiado. Sem dúvidas vimos as mobilizações ocorrerem e a prioridade passou a ser o coronavírus”, destacou.
Diante de toda dificuldade Sidnei ressalta que antes de mais nada, é preciso que cada um faça sua parte. Ele explica que não tem sido fácil a rotina dos profissionais de saúde. Os plantões são extensos, os pacientes muitas vezes estão em primeiro lugar, antes mesmo da família, neste momento.
“Eu não tenho contato com muitas pessoas da minha família, por exemplo os meus pais. Eles não moram comigo e são do grupo de risco. Além de serem idosos, minha mãe tem diabetes e eu não posso vê-los, definitivamente. Passei meu aniversário sozinho, sem a presença da minha família, dos meus amigos e isso tudo, somado ao caos na saúde, gera mais angústia ainda”, disse.
Hábitos de prevenção
Como medida de prevenção o médico adotou hábitos que hoje fazem parte da rotina. Ele contou que antes mesmo de entrar em casa ele retira os sapatos na porta e segue direto para a lavanderia, onde isola a roupa usada para higienização.
“A rotina começa no hospital, antes de sair eu já tomo um banho e separo meu uniforme e paramentação para desinfecção. Eu levo para casa e eu mesmo lavo com os produtos necessários. Assim que chego em casa tiro o calçado na porta, antes de entrar. Em seguida vou direto para lavanderia e já vou para o banheiro tomar banho. Não vou mentir que no início isso me incomodou, mas hoje é automíctico. Inclusive, acho que será difícil desapegar desses hábitos depois que tudo acabar”, contou Sidnei.
Aprendizado e fortalecimento
O G1 pediu para que o médico definisse, em duas palavras, o momento de pandemia e ele respondeu: fortalecimento e aprendizado.
“Essas palavras são as mais convenientes nesse momento, pois tudo que estamos vivendo tem sido um aprendizado enorme. É tudo muito novo e aprendendo no ato de uma grave crise como essa, estamos nos fortalecendo dia a dia. Outro fator de fortalecimento é ver pacientes lutando no tratamento e alcançando a cura. Isso tem nos fortalecido muito, sem dúvidas”, expressou.
Sidnei completa falando sobre ter crença. “Minha última observação é que precisamos acreditar, ter fé, pois é só uma fase, isso não vai durar para sempre. A gente só lamenta que enquanto durar vamos ter consequências, mas nós, profissionais da saúde, estaremos sempre à serviço da vida e cuidando para que a curva de contaminação seja achatada o quanto antes”, finalizou.