Médico relata dor de perder colegas de trabalho em pandemia: ‘Pensando se vai ser o próximo’


Fernando Álison Morais Diniz Felix, de 26 anos, contou em entrevista ao G1, neste domingo (7), a rotina dentro de UTI pós pandemia. Fernando utiliza equipamentos de proteção em hospital de Guarujá (SP)
Arquivo Pessoal
A rotina na UTI mudou desde a chegada do novo coronavírus, e o medo da contaminação faz parte do dia a dia de profissionais da saúde que perdem colegas para a doença. É o que relata o médico de UTI Fernando Álison Morais Diniz Felix, de 26 anos, em entrevista ao G1 neste domingo (7). “A gente fica pensando se vai ser o próximo”, desabafa o médico.
O médico especialista em cirurgia geral atua em um hospital de Guarujá, no litoral de São Paulo. Ele foi designado para a UTI voltada para casos de Covid-19, e conta que não imaginava que os hospitais teriam tantos casos quando as notificações começaram a surgir. “Eu não acreditava que fossem ter tantos casos graves com tantas mortes. Não vi nada tão intenso e fatal quanto a pandemia de Covid-19”.
O médico explica que, desde o início da pandemia, os primeiros casos de profissionais da saúde com a doença fizeram com que a preocupação aumentasse. O que, no início, parecia distante, assustou médicos que passaram a perder colegas de trabalho para a doença. Fernando relata que percebeu a seriedade quando soube de dois médicos jovens que morreram por conta do coronavírus.
“O que mais me tocou recentemente foi o relato de um colega médico jovem, com cerca de 30 anos, que morreu por uma parada cardíaca ao ser entubado. Além dele um outro colega que foi nosso paciente, que descobriu a doença ao tratar de outra coisa e morreu dias depois. Quando nos deparamos com isso, pensamos que se acomete um colega nosso, poderia ser a gente”, relata.
Com os casos aumentando, ele explica que os cuidados são redobrados dentro da UTI, se paramentando com todos os itens de proteção possíveis. Mesmo assim, ainda há casos de profissionais que acabam se contaminando por estarem na linha de frente.
“Todos os dias colegas são afastados, mesmo tomando todos os cuidados”, explica Fernando. O médico ainda ressalta que tem preocupação de levar a doença para casa, por isso, ao entrar na residência, segue uma espécie de ‘ritual’ para retirar a roupa do hospital, tomar um banho e fazer a higienização das mãos de maneira correta, evitando contato com qualquer familiar antes.
Ao descrever a rotina no hospital e falar sobre a situação atual, o médico cita que há mais momentos tristes dentro dos hospitais pós-pandemia. Além de lidar com a perda de profissionais da saúde e colegas, há a relação com os pacientes, no momento do diagnóstico, e familiares.
“Eu fico tocado com o apego dos acompanhantes, isso acaba que a gente cria um vínculo maior com o paciente. A gente espera que no dia seguinte consiga dar uma boa notícia para aquele familiar angustiado, e nem sempre é o que a gente consegue dar”, lamenta Fernando.
Máscaras começaram a fazer parte da rotina pós-pandemia
Arquivo Pessoal
Rotina na UTI
Com a chegada da Covid-19, as UTIs tiveram uma maior demanda, e a orientação para médicos é evitar o contato direto muitas vezes, como explica Fernando. Ele conta que existe a Unidade de Terapia Intensiva voltada para pacientes com a doença, e as áreas de isolamento devem ser respeitadas.
“Evitamos entrar várias vezes nas áreas de isolamento para não levar o vírus e infectar outras áreas. Há uma equipe dentro e outra fora, e os médicos só entram na área de isolamento se tiver necessidade de fazer algum procedimento”, conta.
No momento de fazer a visita diária e ao fazer procedimentos nos pacientes internados, eles devem usar máscaras, capote, e a roupa de proteção impermeável. “Tudo para evitar a contaminação”, finaliza o médico.

By Negócio em Alta

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