Suspeitos participavam de ‘Festa da Covid’. Polícia já identificou envolvidos na confusão, entre eles um policial militar. Vítima diz que pensa em se mudar de bairro Novas imagens mostram médica sendo carregada e agredida
Novas imagens divulgadas na internet nessa quarta-feira (3) mostraram a médica Ticyana D’Azambujja sendo carregada após ter sido agredida quando tentava interromper uma festa no Grajaú, na Zona Norte do Rio, que acontecia em meio à pandemia da Covid-19 no Estado. Na filmagem, um homem a carrega pelas pernas, enquanto uma mulher puxa o cabelo de Ticyana.
O caso é investigado pela 20ª DP (Vila Isabel), e um dos agressores é um policial militar. Uma investigação interna foi aberta.
Em entrevista, a médica agredida no Grajaú, na Zona Norte do Rio, disse que tem medo do que possa acontecer a ela e ao filho pequeno e por isso pensa em se mudar do bairro.
Polícia identifica agressores da médica que reclamou de festa no Grajaú
“Eu tô morrendo de medo. Eu tenho um filhinho pequenininho e eu provavelmente vou ter que mudar daquele bairro. Aqui na delegacia eles me garantiram que nada vai acontecer comigo, justamente pela visibilidade, por tudo que aconteceu. Mas muita gente tá falando que eu mexi com gente poderosa. Eu tô realmente morrendo de medo. Por isso que eu tô buscando me expor. Justamente para que eu busque nessa visibilidade a minha segurança”, disse Ticyana D’Azambujja.
O evento no Grajaú, que terminou com a médica intensivista agredida no meio da rua foi batizado de “Festa da Covid” — e tinha até copo personalizado. A confusão foi no último sábado (30).
Ticyana, de 35 anos, contou que decidiu danificar o carro de um dos presentes na festa depois de tentativas em vão de interrompê-la. O decreto estadual que trata das restrições durante a pandemia proíbe tais aglomerações.
Festa tinha copo personalizado com o ‘meme do caixão’, que ganhou as redes sociais durante a pandemia
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“Naquela tarde eu decidi dar um basta e encarar eles. Em um ato de imaturidade, quebrei um dos carros, parado irregularmente na calçada. Assim eu sabia que eles viriam para conversar comigo. Mas eles não vieram para conversar. Vieram para me matar”, afirmou Ticyana.
Fotos mostram parte das agressões. É possível ver um homem carregando Ticyana enquanto outro homem e uma mulher seguem os dois.
Homem carrega médica no Grajaú
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Imagem mostra homem carregando médica que relatou espancamento no Grajaú
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Queixa por agressão
Ticyana procurou a 20ª DP (Vila Isabel) na segunda-feira (1º) para prestar queixa por agressão. A médica chegou à delegacia com uma mão engessada, a outra imobilizada e uma das pernas também.
A médica afirma que as festas no vizinho eram frequentes e aumentaram na pandemia. “Eu já não dormia mais no quarto. Tinha que dormir na sala junto com meu filho porque não conseguíamos mais dormir”, explicou.
“Eu sou médica anestesista e intensivista. Trabalho em três hospitais na linha de frente do combate à Covid. Sexta-feira (29), tinha trabalhado 24 horas e no sábado trabalharia mais 12 horas. Eu tinha só o sábado durante o dia para poder descansar”
A Polícia Civil afirma já ter identificado os suspeitos das agressões à médica. Um deles, o PM Luiz Eduardo Salgueiro, teve o vidro do caro quebrado por ela.
“Vamos ver a extensão das lesões. Pode até caracterizar uma tentativa de homicídio”, afirmou o delegado Roberto Ramos.