Quatro em cada dez brasileiros vivem na informalidade e esse grupo é considerado o mais vulnerável. São trabalhadores que perderam a renda porque viviam de pequenos serviços. Trabalhadores sem renda e sem auxílio do governo perdem a moradia
Trabalhadores que perderam a renda e não conseguiram receber o auxílio de R$ 600 do governo estão perdendo o lugar de moradia.
De uma hora para outra, a vida do garçom Fabian Fernandes da Silva virou pelo avesso. “Sempre trabalhei, tenho 53 anos. Tenho muito mais de 20, 25, 30 anos de carteira assinada e tô nessa situação. Ultimamente, estou morando na rua. Por que? Fiquei desempregado, não tenho condições de pagar aluguel, dei entrada no auxílio emergencial e até agora não recebi”, conta.
Jornal Nacional: Qual resposta você recebeu?
Fabian Fernandes: Eu não recebi nenhuma resposta. Vou na Caixa de dois em dois dias, passo o cartão e nada.
Jornal Nacional: Se você recebesse o benefício você estaria na rua?
Fabian Fernandes: Não. Não estaria na rua, porque toda vida eu trabalhei.
Jornal Nacional: Como é essa transição de alguém que tem casa e de repente se vê sem casa e cai na rua?
Fabian Fernandes: Olha, é muito difícil.
O ambulante Valdecir Gonçalves teve que sair da casa onde vivia em Japeri, na Baixada Fluminense. Ficou sem renda e não tem CPF para pedir o auxílio emergencial. Agora, quer voltar para o Tocantins, onde nasceu. “Hoje está fazendo dois dias que eu tô na rua. Nunca tive na rua não. É a primeira vez”, diz.
Jornal Nacional: Por que você veio pra rua?
Valdecir Gonçalves: Eu vim por motivo de falta de condições.
Jornal Nacional: Você recebe algum auxílio do Governo Federal?
Valdecir Gonçalves: Não. Nunca recebi nada. Sempre trabalhei de vendedor ambulante. Nunca tive carteira assinada, nunca tirei carteira de trabalho.
Quatro em cada dez brasileiros vivem na informalidade e esse grupo é considerado o mais vulnerável. São trabalhadores que perderam a renda porque viviam de pequenos serviços. Muita gente não conseguiu acesso ao benefício de R$ 600 pago pelo Governo Federal e teve que morar na rua. Tem gente que consegue vaga em abrigos ou ocupações no Centro do Rio de Janeiro.
“Eu sou camelô, trabalho vendendo cerveja, espetinho na rua. Devido ao coronavírus, fecharam tudo. Até então, eu estava morando de aluguel. Fui despejado da onde eu morava, aí eu vim morar na rua”, conta Leonardo Fonseca.
Jornal Nacional: Tem comida todo dia?
Leonardo Fonseca: Quando as pessoas ajudam.
Jornal Nacional: Você conseguiu receber o auxílio de R$ 600 do Governo Federal?
Leonardo Fonseca: Não, não, não. Sempre digita, está em análise, em análise e nunca sai de análise.
Não há dados sobre o aumento de sem-teto durante a pandemia. É um fenômeno recente, percebido por quem convive diariamente com essa população.
Léo Motta já passou por isso e hoje tem uma instituição que ajuda quem não tem casa. “Muita gente, muita gente nova. São pessoas com perfil totalmente diferentes com o que a rua estava acostumada. São pessoas que já tinham suas vidas e estão chegando nas ruas. Quem está aqui não quer estar aqui”, afirma.
A Caixa afirmou que é preciso esperar a análise da Dataprev, a instituição do Governo Federal responsável pela verificação
O Ministério da Cidadania respondeu ao pedido do Jornal Nacional para que se manifestasse a respeito da reportagem e afirmou que todas as solicitações que estão em análise passam por uma checagem para chegar a quem é elegível de forma segura e para evitar pagamentos a quem não tem o direito. E que quase 60 milhões de brasileiros estão sendo atendidos pelo auxílio emergencial.