Declaração foi feita nesta terça (19) pelo diretor do departamento de doenças comunicáveis da entidade, que é o braço da OMS nas Américas. que
Agência Pará
O diretor do departamento de doenças comunicáveis da Opas, braço da OMS nas Américas, afirmou nesta terça-feira (19) que “não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19”.
A entidade foi questionada sobre o uso do medicamento para a doença durante uma coletiva de imprensa virtual. Os especialistas também se manifestaram sobre a necessidade de mensagens governamentais coerentes e sobre a preocupação com as populações indígenas (veja mais abaixo nesta reportagem).
“Não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina contra a Covid-19”, afirmou Marcos Espinal. “Ainda não temos os resultados de testes clínicos que possam sugerir a eficácia desses dois medicamentos. Desde o começo, a Opas produziu uma revisão bastante sistemática. Acabamos de atualizar o documento, e não há evidência de que essas duas drogas sejam eficazes contra a Covid-19”.
A cloroquina e a hidroxicloroquina são usadas para tratar alguns tipos de malária e lúpus, uma doença autoimune.
Espinal afirmou que a decisão sobre usar as substâncias contra a Covid-19, mesmo sem evidências científicas, “é uma questão de cada país decidir”, mas destacou que, além de não ter benefícios comprovados contra o novo coronavírus, os medicamentos têm efeitos colaterais.
“Os estudos estão sugerindo uma alta taxa de efeitos secundários em problemas cardíacos em pessoas que estão usando”, lembrou.
Na segunda-feira (18), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também desaconselhou o uso das duas substâncias para tratar a Covid-19. Em nota, a entidade afirmou que a aplicação dos medicamentos “carece de evidências científicas” e o impasse entre o uso ou não deles contra a doença adquiriu um “aspecto político inesperado”.
Impasse
O uso da cloroquina para a Covid-19 vem sendo motivo de discórdia entre especialistas e o presidente Jair Bolsonaro. Apesar de não haver evidências científicas que comprovem a eficácia do medicamento contra a doença, que já matou mais de 17 mil pessoas no Brasil, Bolsonaro defende o uso da substância.
Na semana passada, depois que o então ministro da Saúde, Nelson Teich, alertou sobre os riscos do medicamento, Bolsonaro manteve sua posição sobre o uso dele na pandemia (veja vídeo).
Após Teich alertar sobre risco da cloroquina, Bolsonaro defende o uso do remédio
Dias após as declarações do presidente, Teich pediu demissão do cargo, menos de um mês depois de assumi-lo.
No mesmo dia, o Ministério da Saúde divulgou nota afirmando que vai dar orientações sobre o uso da cloroquina em casos leves de Covid-19, mesmo sem existirem evidências científicas para isso.
O antecessor de Teich no ministério, Luiz Henrique Mandetta, também havia alertado para os riscos do remédio antes de ser demitido. Além do uso da cloroquina, ambos os ministros tiveram divergências com o presidente sobre as medidas de isolamento social para tentar conter o vírus.
Governos precisam ter coerência, reforça diretor
O diretor da Opas também reforçou a mensagem da semana passada da OMS sobre a necessidade de que os governos mantenham coerência no combate à pandemia.
“Os governos precisam ter mensagens consistentes para informar as pessoas – quando as mensagens não são consistentes ou diferentes, as pessoas não sabem para onde ir”, lembrou Espinal.
“É importante que os países tornem suas mensagens consistentes com as recomendações de organizações internacionais – com as políticas da Opas e da OMS. [Se isso não for feito], significa mais casos e, potencialmente, como estamos vendo, mais mortes”, explicou.
Na semana passada, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, também destacou a necessidade de coerência no combate à pandemia.
“Eu acho que esse tem sido um fator em muitos países federados grandes”, disse Ryan. “A despeito da efetividade do sistema de saúde, o que é realmente crucial é que haja coerência, coesão, especialmente em grandes estados federados. As comunidades precisam ouvir mensagens coerentes e consistentes de lideranças, essa mensagem precisa ser clara e governos precisam seguir o que falam”, afirmou.
Populações indígenas
14 de maio: membros da comunidade indígena Parque das Tribos choram ao lado do caixão do chefe Messias, que morreu vítima da Covid-19 em Manaus.
Michael Dantas/AFP
Os especialistas da Opas também foram questionados sobre se as populações indígenas estão sendo consideradas como um grupo de risco nesta pandemia.
“Estamos falando de populações vulneráveis, povos indígenas”, respondeu o diretor de incidentes da Opas, Sylvain Alighieri. “E também falamos dos afrodescendentes, que são minorias em alguns países da América Latina. Estas são populações muito vulneráveis, por diferentes razões. Uma das primeiras é o desafio quanto à promoção da saúde e à participação comunitária desencadeado pelas barreiras culturais – são populações que necessitam comunicação especial sobre a prevenção, implementação das medidas de saúde pública. Esse é um aspecto”, disse.
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“O segundo aspecto, complexo, é que populações indígenas também vivem em grandes cidades, como Manaus, no Brasil. Essa população, além de ter o desafio da promoção da saúde e do acesso à informação, também vive em condições de pobreza, em densidades muito densas, e com comorbidades. Nestas populações, nessas grandes cidades, existe o risco de que o vírus se propague para as comunidades mais remotas por meio dos rios e estradas na Amazônia”, lembrou.
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Ele destacou que, nas regiões fronteiriças – especialmente entre o Brasil, a Guiana Francesa e o Suriname –, está havendo alta propagação do vírus.
“Devemos estar alertas. Devemos considerar esses grupos indígenas como populações vulneráveis, implementar medidas de prevenção e de controle específicas para protegê-los da alta carga dessa doença”, declarou Alighieri.
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