Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, abriu na última quinta-feira (7) 15 novos leitos para pacientes com a Covid-19. Todos já estão ocupados. Médico faz relato sobre a linha de frente na batalha contra a Covid.
Os médicos que trabalham no Hospital da Posse, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, estão enfrentando uma rotina cruel durante a pandemia da Covid-19. Ter que decidir qual paciente terá prioridade no atendimento se tornou uma constante na unidade.
Segundo o cardiologista Jorge Ferreira, que trabalha na linha de frente do hospital, o desgaste por ter que decidir qual paciente receberá atenção acontece diariamente.
“Diariamente a gente já lida com essa escolha porque a quantidade de pacientes que a gente tem recebido é muito grande. A gente senta e determina qual é o paciente que a gente consegue dar um suporte de vida maior”, disse Ferreira.
Para o médico, existe um sentimento de derrota por não conseguir atender a todos que procuram ajuda.
“A quantidade de paciente é tão grande que a gente acaba, infelizmente, perdendo para a doença. E esse sentimento de perda pra doença machuca. Com certeza machuca toda a minha equipe. Quando a gente conversa dificilmente algum colega não tem lágrimas nos olhos ao falar sobre isso”, relatou o cardiologista Jorge Ferreira.
69 infectados
O hospital de Nova Iguaçu, abriu na última quinta-feira (7) 15 novos leitos para pacientes com a Covid-19. Todos já estão ocupados.
Na sala vermelha da unidade todos os pacientes estão com respiradores. Ao todo, são 69 pessoas internadas com o novo coronavírus. No momento, 20 dos 30 respiradores estão sendo utilizados.
Contudo, segundo os médicos, esse quadro muda rapidamente porque as complicações da doença ocorrem de uma hora pra outra.
“Ela evolui de forma muito surpreendente na maior parte das vezes. Evolui de forma rápida. Às vezes, um paciente que chega com sintomas um pouco mais leves, se queixando de sintoma de desconforto, de falta de ar, mas daqui a um pouco ele já está precisando de oxigênio. Em seguida, já está num respirador. Essa tensão bota a equipe do dia num desgaste, numa tensão muito grande”, narrou o diretor do hospital, Dr. Joé Sestello.
Profissionais doentes
Outro grave problema que acontece no Hospital da Posse, assim como em muitas outras unidades do RJ, é que profissionais de saúde também estão sendo contaminados pelo vírus.
“A gente tá tendo vários colegas com baixas diárias. Não podemos lidar com a preocupação do colega que tá indo pra casa contaminado com covid porque temos milhões de outros pacientes para tratar. A gente vai se dividindo em 2, 3, 4 médicos por plantão, sem ter hora de descanso, postergando a hora do almoço, postergando a hora de ir ao banheiro, esquecendo de beber água”, comentou Ferreira.
Emocionalmente abalado
Os profissionais do hospital contaram ao RJ2 que o desgaste emocional também é muito grande.
O cardiologista Jorge Ferreira contou que nesta sexta-feira (8) precisou comunicar um óbito a um familiar e não conseguiu retomar o trabalho imediatamente.
“O familiar completamente desesperado porque ele sabia que não iria conseguir se despedir. E eu tenho que sair dessa sala e voltar pro trabalho porque tem outros pacientes pra poder atender. Naquela hora, eu tive que andar um pouco do lado de fora do hospital, respirando, porque eu tinha que conseguir mentalmente entrar no hospital”, disse o médico.
“O nosso emocional no final do plantão, no final do trabalho ele sai destruído”.
Família isolada
Por conta da pandemia, Dr. Ferreira e a esposa, que também é médica, montaram uma estratégia de isolamento em casa. Para ele, o mais difícil é não poder beijar o filho.
“A gente montou uma estratégia de tirar a roupa, minha esposa também é medica, então a gente troca de roupa totalmente do lado de fora de casa. A minha mãe que mora em Campos eu já não vejo desde o início da pandemia. O medo de levar pra casa o vírus é diário. Quando eu olho pro meu filho, quando eu tento beijá-lo, eu falo não posso fazer isso porque eu não posso contaminar ele”, explicou o cardiologista.
“Qualquer pequeno sintoma de dor de cabeça, um choro maior do meu filho, eu fico com medo. Será que eu fui culpado por estar levando isso pra minha casa? Mas eu não tenho outra opção. Eu tenho que estar aqui trabalhando”, concluiu.
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