Diante da pandemia causada pela propagação da covid-19, a quarentena tem se mostrado eficaz em diversos lugares do mundo. No entanto, o isolamento, a coexistência forçada e a instabilidade socioeconômica nesse período podem implicar no risco de maior exposição das mulheres à violência doméstica. Ongs chinesas de defesa da mulher denunciam volume triplicado de consultas à vítimas após a quarentena.
Segundo Lídia Moura, secretária da Mulher e da Diversidade Humana, a rede de proteção à mulher do governo já suspeitava da possibilidade do aumento de casos na Paraíba, e decidiu manter alguns serviços ativos como a Casa Abrigo Ariane Taís e o Programa Integrado Patrulha Maria da Penha.
“A Casa Abrigo, por razões óbvias, já era de mulheres que estavam confinadas em função de terem sofrido violência severa. Então nós mantivemos a casa, que tem a equipe multidisciplinar, e também equipes de enfermagem que fazem esse acompanhamento”, informa a secretária.
Segundo a secretária, a Patrulha do Programa Integrado Maria da Penha permanece com todo o serviço em funcionamento, com acompanhamento de medidas que já estão no judiciário, medidas que sofram descumprimento e também as novas medidas, destacando que as Rotas estarão em funcionamento normal.
“As rotas estão funcionando normalmente porque já notamos algumas tentativas de agressores com medida restritiva de se aproximarem das mulheres, então a gente tem que dar uma resposta efetiva”, conclui Lídia Moura.
Delegacias da Mulher
Os atendimentos da Delegacia da Mulher estarão centralizados exclusivamente na Delegacia da Mulher da Zona Sul de João Pessoa (Deam – Sul), funcionando para toda a região metropolitana, normalmente, porém, apenas para os casos de violência física e que envolvem urgência, prisões em flagrantes, estupro e lesão corporal às mulheres. A vítima pode ligar para 190 ou dirigir-se para a Deam – Sul.
Os outros tipos de denúncia (ameaça, injúria, difamação, calúnia), poderão ser feitos através de B.O no site da Delegacia Online ou pelo telefone 197.
Segundo a delegada Maísa Félix, até o domingo (22), não houve registro de aumento do número de casos de violência contra as mulheres, porém o sistema e a rede está todo em alerta.
Atenção e sororidade
A Assistente Social Mônica Brandão decidiu colocar seu contato para atender as mulheres que sofrem violência: “Enquanto profissional do Serviço Social, que trabalha atendendo as mulheres desde 2003, coloquei meu contato para uma escuta mais qualificada, já que a gente trabalha na perspectiva de que as mulheres não podem sair de casa.” Ela também é Coordenadora do Programa Integrado Patrulha Maria da Penha e explica que a Polícia Militar está nas ruas, mas que existem mulheres dentro do ciclo da violência e que não se percebem como tal, então esse é o momento crucial de escuta.
“A gente quer fomentar realmente ações educativas nas redes sociais para que as pessoas façam a denúncia dos casos de violência doméstica, porque a tendência é de que esses números aumentem ainda mais”, complementa ela, e explica que qualquer pessoa pode ligar para o 190 no caso da violência acontecendo naquele momento.
Para denunciar sem se identificar, deve-se ligar no 197, da Polícia Civil. Cada caso, de acordo com a coordenadora, será encaminhado para cada órgão específico, como a Delegacia dos Crimes contra a Infância, do Idoso e das Mulheres.
Bárbara Zen, da Marcha Mundial das Mulheres na Paraíba afirma que as mulheres são as primeiras atingidas pelo isolamento: “Para nós, uma das principais violências é a que atinge a sustentabilidade da vida, a violência econômica. Neste momento, reivindicamos a revogação da Emenda do Teto dos Gastos Públicos, e também que as contas de água, luz e gás não sejam cobradas para que as mulheres consigam se manter minimamente. A pobreza no Brasil tem raça, cor e gênero, as mulheres negras são as principais chefes de família e a parte majoritária do trabalho informal, além das que sofrem mais violência doméstica”.