Universidades se destacam na produção de materiais para os serviços de saúde

Uma das grandes dificuldades no combate à disseminação do coronavírus é a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e de insumos para higienização aos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). Mostrando o inestimável valor da ciência, da pesquisa e da educação para a sociedade brasileira, universidades estão empenhadas na produção e distribuição gratuita de materiais para utilização dos trabalhadores que atendem pessoas diagnosticadas com coronavírus.

No Rio Grande do Sul, diversas universidades públicas e comunitárias trabalham na produção de protetores faciais, álcool gel e itens como máscaras e jalecos para atender os hospitais e as demandas das secretarias de Saúde municipais e estadual. Os trabalhos são realizados em uma rede de apoio que envolve docentes, técnicos, bolsistas, grupos de pesquisa, laboratórios, grupos da sociedade civil, representantes dos governos, empresas e voluntários.

Iniciativas como essas são vistas em todo o Brasil. Para a professora e pesquisadora do curso Design da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Cinthia Kulpa, que compõe a equipe de voluntários da universidade que está desenvolvendo protetores faciais para hospitais de Porto Alegre, “esse tipo de situação que acontece no mundo vem comprovar que a ciência tem que estar de braços dados com o governo, isso tem que acontecer. A gente não tem que falar de política, mas de bens comuns, o que podemos fazer um pelo outro”.

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Parceria da UFRGS amplia capacidade de ajuda


EPIs estão sendo produzidos nos laboratórios da universidade desde o dia 24 de março / Foto: Paulo Fernando/Agência de Comunicação da EE

Diversos laboratórios da UFRGS estão produzindo, desde o dia 24 de março, máscaras de proteção do modelo face shield para os profissionais de Saúde. Conforme Cinthia, a equipe envolvida trabalha voluntariamente. “A gente aqui da UFRGS viu a possibilidade de ajudar. A Escola de Engenharia e Faculdade de Arquitetura abriram alguns laboratórios e começaram produzir um dos EPIs necessários, que é protetor facial”, explica a professora.

O protetor facial é desenvolvido em impressoras 3D, tecnologia que, segundo Cinthia, leva cerca de uma hora e vinte minutos para desenvolver uma unidade, se não houver erros. “Estamos com seis máquinas aqui na Escola de Engenharia e mais algumas no Campus do Vale. Então imagina, um protetor a cada uma hora e vinte não é muito por dia”, avalia, destacando que essa dificuldade foi superada em uma iniciativa colaborativa que reúne universidades, profissionais da Saúde e sociedade.

“Aqui em Porto Alegre, a demanda é gigantesca e não existe no mercado para vender. Com ajuda de muitos doadores, na terça começamos a produzir, numa parceria com o grupo Brothers in Arms Impressão 3D, afirma. O grupo foi criado pelo movimento Pacto Alegre, movimento em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre que reúne mais de 200 voluntários, entre médicos, engenheiros e empresários. “No final de contas, a Taurus, empresa de armas, disse que queria nos ajudar porque quer salvar vidas. Não pediram nada em troca”, revela.

A empresa vai produzir moldes para que os protetores sejam feitos a partir do método de injeção, que devem ficar prontos entre quatro dias e uma semana. Com isso, destaca a professora, poderão ser feitas 300 unidades por hora. “Com o molde, eles vão produzir a testeira. Eles estão correndo atrás para fabricar o acetato (parte transparente que cobre a face) também, assim como o elástico que prende. Eles conseguem fazer isso e a gente vai fazer a distribuição, pois temos os canais e transportadora para isso”.

Cinthia comemora a atuação coletiva do Brothers in Arms. “No grupo, doadores podem comprar e entregar os produtos para quem está precisando, e também são feitas trocas. Vamos nos ajudando, temos dois rolos de 50 kg de acetato, porque temos máquina de corte a laser e vamos ajudar a cortar para outros lugares”, conta. O Brothers in Arms faz a comunicação e inclusão de grupos por meio do WhatsApp. O grupo também está cadastrando as demandas por EPIs de unidades de Saúde para organizar formas de suprir a partir da sua rede de apoio.

Outra iniciativa que nasceu na UFRGS é o projeto “Rede de Solidariedade com e pela comunidade contra o coronavírus”. Desenvolvida por cerca de 30 estudantes e 60 professores e pesquisadores, a iniciativa propõe ações ordenadas para que as comunidades carentes de Porto Alegre (RS) consigam se preparar para o combate ao coronavírus.

“Cada docente da universidade aplica a sua área de conhecimento de acordo com a necessidade do local. Por exemplo, a Faculdade de Farmácia produziu e distribuiu álcool gel com orientações, seguindo o padrão farmacêutico, de como utilizar o produto de maneira eficiente na comunidade; o Serviço Social organizou um posto de coleta de alimentos e produtos de higiene para atender a alta demanda diante do isolamento social”, explica Denise Bueno, uma das coordenadoras do projeto.

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No Interior, produção requer matéria-prima


A URI de Frederico Westphalen está produzindo alcool gel / Foto: Divulgação URI/FW

A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) é outra que está empenhada em contribuir. A instituição comunitária possui diversos campus na região Noroeste do Rio Grande do Sul. Em Frederico Westphalen, professores e técnicos estão fabricando álcool gel, que será entregue à prefeitura municipal, que vai repassar ao sistema de Saúde.

Professora e coordenadora do curso de Farmácia e Estética e Cosmética, Verciane Schneider Cezarotto, conta que, inicialmente, por demanda interna da universidade, o grupo inociou a produção do álcool gel. A partir daí, veio a demanda da Secretaria Municipal da Saúde e do Hospital Divina Providência. “A presidente do hospital entrou contato com a diretora-geral do campus e começamos a produzir. Inicialmente, usamos a matéria prima de universidade, depois recebemos doação de uma farmácia de manipulação que tinha matéria-prima”, conta.

Verciane destaca que a demanda é grande e que eles necessitam de doações para seguir a confecção. “Produzimos de 30 a 35 litros de álcool por dia. Nosso limitante é a matéria-prima, que na semana que vem deve terminar. Dependemos de doações, pois há escassez de materiais como o carbopol, polímero que usa para fazer o gel, e de álcool.”

Uma equipe de 10 pessoas, separadas em turno, vai se revezando no trabalho, “todos funcionários da universidade, que embora estejam com atividade domiciliar, estão vindo voluntariamente”, conta a professora. Para ela, esse momento vem mostrar para a sociedade a importância de valorizar a ciência e a pesquisa no país. “É fundamental termos pessoas qualificadas atuando, serviço que a universidade pode prestar para a comunidade a partir do conhecimento científico. Tem muitas iniciativas. Como uma universidade comunitária, diferente de uma instituição privada, nossa missão é atender as demandas regionais. A URI é regional e está auxiliando nesta demanda social”, afirma.

Nos campus de Erechim e Santo Ângelo, a URI também está produzindo álcool gel para o sistema de Saúde. Em Santo Ângelo, itens como máscaras e peças para respiradores artificiais estão sendo produzidos no parque tecnológico da universidade pela empresa Inovatec, em parceria com os cursos de Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica. Uma impressora 3D é utilizada para produzir a viseira de proteção.

Iniciativas em todo o RS


Impresora 3D produzindo o EPI na FURG / Foto: Divulgação FURG

A Universidade Federal do Rio Grande (FURG) também está produzindo máscaras modelo face shield para profissionais da Saúde a partir de impressoras 3D. O trabalho é feito por um grupo de professores, estudantes, técnicos, voluntários e egressos da universidade, os quais compõe o ITecCorona, um comitê voltado para pensar soluções em tecnologia e automação para o enfrentamento da atual crise. Com uma produção inicial de 100 protetores, os EPIs vão atender à demanda dos municípios de Rio Grande, São José do Norte e Santa Vitória do Palmar.

A Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) também iniciou a produção de face shields em impressoras 3D, numa parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. De acordo com o professor do Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDTec), Guilherme Netto, a produção total vai depender do estoque de material de cada voluntário. “No CDTec temos um estoque para imprimir cerca de 400 máscaras, mas conforme sejam arrecadados mais insumos podemos ampliar a produção inclusive colocando mais uma impressora em rede”, explicou.

Na Universidade Federal de Passo Fundo (UPF) voluntários do curso de Design de Moda fabricam máscaras, jalecos e aventais de manda longa. Cerca de 200 mil itens estão em confecção em 30 máquinas de costura e dois laboratórios, informou a universidade.

By Alice Pavanello

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