Em mais uma coletiva de imprensa, concedida neste sábado (28), Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, confirmou a distância que existe entre a sua perspectiva sobre as consequências e soluções para conter a curva de ascensão dos casos de contaminados no Brasil, e a de seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro.
Durante a coletiva, Mandetta anunciou que o Brasil chegou a 3.904 casos confirmados de pessoas que contraíram coronavírus e 114 óbitos, por consequência da doença. O ministro voltou a defender a quarentena no país, medida que Bolsonaro quer reverter em nome da economia.
“Se todo mundo sair andando por aí, vai faltar para o rico e para o pobre. Precisamos ter racionalidade e não nos mover por impulso”, explicou o ministro, que pediu que as medidas sejam tomadas “pela ciência e pela parte técnica, com planejamento.”
Os pedidos para que os brasileiros não interrompam a quarentena foram diversos durante a coletiva. “Não dá pra gente trabalhar, ainda, não dá pra falar para liberar todo mundo para sair, porque nós não estamos tendo tempo de chegar nem com o equipamento.”
Até mesmo empresários que apoiam Bolsonaro receberam indiretas do ministro. “Tem aqueles que falam assim: ‘essa doença vai matar só 5 mil ou 10 mil’. Não é essa conta. Essa doença ataca a sociedade como um todo, a logística, a economia e uma série de estruturas”, afirmou Mandetta.
Recentemente, Junior Durski, dono de uma rede de hamburgueria, lamentou que o país pare por “5.000 ou 7.000 mil pessoas que vão morrer” por coronavírus. “O Brasil não pode parar dessa maneira. O Brasil não aguenta. Tem que ter trabalho”. Roberto Justos também ironizou o número de óbitos no país para pedir o fim do isolamento social.
Mandetta lembrou que o país não deve “fazer movimento assimétrico de efeito manada agora. Daqui duas ou três semanas, os mesmos que fizeram uma carreata de apoio, serão os mesmos que estarão em casa”, criticou o ministro.
O ministro lembrou que a quarentena é importante por outros aspectos que influenciam a saúde pública, não apenas pela possibilidade de contágio do coronavírus. “Quando a gente manda parar, diminuem acidentes, diminuem traumas e aumentam leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) quando precisarmos. Diminuem politraumatizados na UTI e aumenta espaço para os internados por viroses. Ou seja, mais um benefício quando a gente manda parar, além de diminuir a transmissão.”
Na última declaração da coletiva, o ministro acenou para Bolsonaro. “O presidente está certíssimo quando ele fala que a crise econômica vai matar as pessoas. Nós somos 100% engajados em achar uma fórmula com a equipe de economia. Acho que temos uma fórmula, vamos trabalhar nela.”