SÃO PAULO – Ao longo de quatro décadas no mercado de consultoria empresarial, Claudio Galeazzi se tornou um especialista em recuperar negócios em dificuldades.
Seu trabalho era mudar, às vezes radicalmente, o funcionamento de uma companhia com problemas para torná-la mais eficiente ou, em casos extremos, livrá-la da falência.
BRF, Lojas Americanas, grupo Pão de Açúcar, Vulcabraz Azaleia, BTG Pactual e grupo Estado foram algumas das companhias em que ele trabalhou.
Mas e agora? Algumas das lições aprendidas em anos de reestruturações podem ser aplicadas pelas empresas para sobreviver à crise provocada pela pandemia de coronavírus?
Dessa vez, a situação é bem mais complicada, disse Galeazzi ao InfoMoney.
“O que os empresários podem fazer diante dessa situação? Pouco. Uma alternativa é postergar ao máximo os pagamentos, e acredito que o governo deverá dar algum alívio em relação aos impostos”, afirmou.
Confira um resumo da sua análise sobre a crise:
“A pandemia do coronavírus criou uma situação impossível. A maioria dos países tem optado por medidas de isolamento como forma de conter o surto.
A consequência disso será uma recessão brutal, talvez do mesmo tamanho da terrível crise de 1929.
Existe uma corrente de especialistas que defende o isolamento apenas das pessoas em grupos de risco, como os idosos. Com isso, mais negócios continuariam funcionando e os efeitos sobre a economia seriam mais brandos.
Mas poderia haveria um aumento do número de doentes e muitos países não teriam condições de tratá-los. Ou seja, os impactos na saúde poderiam ser catastróficos.
Em resumo: se ficar, o bicho come; se correr, o bicho pega.
O que está claro é que, mesmo quando o avanço da doença for contido no mundo, as consequências na economia serão sentidas por muito tempo.
O setor produtivo não funciona como o mercado financeiro, em que a resposta a notícias boas ou ruins é imediata. A indústria é lenta.
Para ficar em apenas um exemplo: as viagens que estão sendo canceladas não serão retomadas do dia para a noite, o que tem efeitos em toda uma cadeia, que engloba de companhias aéreas a hotéis.
O que os empresários podem fazer diante dessa situação? Pouco. Uma alternativa é postergar ao máximo os pagamentos, e acredito que o governo deverá dar algum alívio em relação aos impostos.
Sem dúvida, a iniciativa privada precisará de apoio do Estado, ou não haverá iniciativa alguma.
Os bancos também podem ajudar. Se não o fizerem, teremos um mundo de inadimplentes.
É claro que o mundo vai superar essa crise, como se recuperou de guerras e pestes no passado. A questão central não é essa. A questão é quantas vítimas haverá, tanto pelo lado da saúde, quanto pelo lado da economia.”
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