A pandemia de covid-19 desafia o mundo. Os riscos de colapso do sistema de saúde, já evidentes em casos como o da Itália, colocam governos e sociedade civil diante da tarefa de redefinir prioridades. Enquanto Jair Bolsonaro (sem partido) e Paulo Guedes colecionam opiniões desastrosas, absolutamente inconsequentes, sobre o tema, diversos países buscam alternativas para atenuar a crise e têm, em comum, uma perspectiva: ações do estado são indispensáveis para as soluções no campo da saúde, da economia e da cultura.
O setor de serviços, por exemplo, pode ser devastado pela crise.
Bares, botequins, restaurantes, casas de show, teatros, cinemas, pequeno comércio de rua, shoppings, feiras, livrarias, não têm como escapar do funcionamento restrito, já que a redução drástica do contato social é de fato necessária para que o caos seja evitado.
Nessa perspectiva, donos de bares, garçons, pessoal da cozinha, bilheteiros, serviço de limpeza, sofrem com negócios e empregos em risco. Do mesmo modo, artistas, músicos, cantoras e cantores, que dependem de agenda cheia para viver dignamente, não veem conforto diante da eminência de uma crise que pode ser duradoura.
É aí que o poder público precisa agir, com políticas de contrapartida para socorrer aqueles que não têm como manter seus negócios parando de trabalhar.
Não se pode responsabilizar o dono de bar, botequim, restaurante, livraria, o músico, a artista, o pequeno comerciante, que precisam pagar contas.
Neste caso, cito como exemplo a prefeitura de Niterói, minha cidade, que tem feito esforços contundentes no sentido de lidar com a crise. Além de ações de urgência articuladas no campo da saúde – prioridade absoluta neste momento –, e medidas de impacto para restringir a circulação e diminuir o risco de colapso do sistema, o gabinete de crise já anunciou o adiamento por três meses da cobrança de impostos sobre serviços (ISS), uma primeira medida para reduzir os impactos devastadores na economia de serviços da cidade.
A situação é séria e inédita. A tarefa não é simples, demanda união, sacrifício, esforços coletivos. Mas só pode ser articulada se os governos tiverem a dimensão do seu principal compromisso: cuidar das pessoas, agindo com rigorosa responsabilidade social.
Priorizar a saúde das pessoas sem medir esforços, agir com transparência, tomar medidas duras, porém efetivas, e não perder de vista a necessidade de contrapartidas que ao menos diminuam o drama de toda uma cadeia econômica de serviços é o que se espera dos agentes públicos neste momento.
*Chico D’Angelo é médico, deputado federal (PDT-RJ) e ex-secretário de Saúde de Niterói