O economista Jeffrey D. Sachs, da universidade norte-americana de Columbia, afirmou que “os líderes políticos mundiais não estão à altura” do desafio do coronavírus. E apontou para Donald Trump: “Os Estados Unidos têm atualmente o presidente mais perigoso para o próprio país e também para o mundo”. Por duas vezes incluído na lista dos 100 Líderes Mais Influentes do Mundo, Sachs fez os comentários na aula inaugural da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro, que ministrou no dia 18, através de teleconferência.
“Achávamos que algo assim era inimaginável, mas aconteceu. Trump e seu governo não entenderam nada e, portanto, não fizeram nada para deter a progressão do problema, que se tornou imenso”, prosseguiu. Reparou que a situação exige mudanças radicais, algo que os dirigentes, com raras exceções, não conseguem implementar.
“Um governo de idiotas”
“Poucos países, como Cingapura e Taiwan, realmente pararam. Quando começa a transmissão comunitária e o rápido alastramento da doença, como já ocorre no Brasil, fica quase impossível controlar”, advertiu. “Nos Estados Unidos estamos, oficialmente, com cerca de três mil casos, mas esse número deve ser 10 vezes maior, já que a testagem aqui é baixa”.
Ele calcula que o Brasil está duas semanas atrás dos EUA quanto ao agravamento da pandemia e deve olhar para o vizinho do Norte como exemplo do que não deve ser feito. “Trump foi negligente. Perdeu muito tempo negando a doença. (…) Temos um governo de idiotas”. Ressaltou que o presidente cortou o orçamento do Centro de Controle de Doenças (CDC), o que agrava o quadro atual.
O exemplo chinês
“Alguns modelos sugerem que até 65% da população mundial pode ser infectada. Quanto mais esperarmos para tomar as medidas necessárias, e radicais, mais a pandemia vai se alastrar. O tempo é extremamente importante”, avisou. Para ele, a China foi bem sucedida no controle da epidemia.
“O país é muito organizado, de cima para baixo, e implantou políticas rígidas. Em Wuhan, onde tudo começou, a população foi obrigada a informar às autoridades, duas vezes por dia, sua temperatura, para que todos fossem monitorados”, lembrou. “Nos EUA e no Brasil um cenário assim é provavelmente muito difícil, já que há uma desorganização geral por parte dos governos. Além disso, fechar tudo leva a dificuldades”, ponderou.
Primeira epidemia on-line
Sachs descreveu a covid-19 como a primeira “epidemia on-line” da História, que deixará lições e mudará hábitos. “Haverá forçadamente uma mudança na economia. As pessoas verão que é possível trabalhar em casa, as universidades ampliarão suas atividades de ensino a distância, serão realizadas menos reuniões presenciais, gastaremos menos combustíveis”, elencou. “Na saúde, a conectividade, com a telemedicina, os serviços sociais online trarão benefícios. É um aprendizado dramático, que terá efeitos importantes e duradouros na economia mundial”, previu.
*Com informações da Agência Fiocruz de Notícias